O texto lança questionamento sobre um evento aplaudidíssimo. Adequadamente sintético! J.Z.

blog da Raquel Rolnik

No último fim de semana, a população de São Paulo e do Rio de Janeiro contou com uma grande opção de atividades artísticas e culturais, graças à realização da Virada Cultural e do Viradão Carioca.

Em sua 8ª edição, o evento paulistano atraiu mais de 4 milhões de pessoas às 900 atrações espalhadas em mais de cem locais da cidade, a maior parte concentrada na região central. A programação da Virada Cultural começa sempre às 18h de sábado e termina às 18h de domingo, com programação ininterrupta e metrô aberto durante toda a madrugada para atender o público.

Já no Rio de Janeiro, cerca de 300 mil pessoas compareceram a um dos quatro palcos espalhados pela cidade para assistir a uma das 60 atrações programadas para a 4ª edição do Viradão Carioca. Foram dois palcos na Zona Sul – um em Copacabana, outro no Arpoador -, um na Zona Oeste…

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Uma análise do espetáculo “Condenada!”

Durante o mês de abril, a Cia. Teatral Grupo de Apoio à Loucura – GAL – apresentou na Fábrica de Sonhos – Espaço de Arte o espetáculo “Condenada!”, baseado na obra de Tennessee Williams “Esta propriedade está condenada”.

O texto original fala sobre o encontro de suas crianças, Willie e Tom, nos trilhos do trem. A menina, Willie, tem treze anos. Durante a peça, Willie conta histórias de sua irmã Alva, relatando como herdou seus namorados e vestidos, depois de morrer com tuberculose. Amante de empregados da estação, Alva viu todos os namorados desaparecerem quando ficou doente. A garota projeta para si a vida de Alva, num desvio de personalidade que traz forçosamente a maturidade.

A montagem de Murilo Gussi e Suzan Del Rey propõe uma releitura da obra, baseada no registro psicológico de Willie. Com o início do espetáculo, vem à cena duas figuras espectrais, vestidas imundamente: roupas de festa já gastas, cabelos desgrenhados. A maquiagem deixa um quê de fantasmagórico. Os personagens, apresentados como duplo, possuem uma diferenciação mínima entre masculino e feminino: o garoto possui um bigode e fuma um cigarro. Até este ponto, o espetáculo ainda não mostra qualquer indicação da pouca idade dos personagens.

Em seguida, assistimos a um excerto de “A Dama das Camélias”, com Greta Garbo. Referência no texto original, a obra vem à cena nesta adaptação, mas pouco se relaciona com a dramaturgia e acaba por criar um aparte melodramático demasiado ilustrativo da encenação. A ausência de blecaute total mostra movimentações que não precisariam ficar às vistas do público, enquanto a lanterna de luz lead sugere uma atmosfera demasiada moderna para a estética do espetáculo.

Sobre as questões estéticas dessa montagem contemporânea, é possível notar o sentimento de apropriação dos intérpretes-criadores em relação ao texto e à cena. Mas, sem o olhar de um diretor que não participe da encenação, a obra acabou por deixar todo o texto em um único registro vocal e interpretativo, próximo ao doentio e psicologicamente perturbado. A falta de uma partitura cênica mais rígida também deixa em falta a sonoplastia, que ao invés de colaborar com a cena acaba por competir com a voz dos atores.

O espaço cênico foi criado em corredor, com arquibancadas em ambos os lados de um linóleo preto; nas extremidades, refletores ao chão. Uma das soluções cênicas pertinentes para as atuais necessidades de mobilidade foi a construção de diversos elementos da trama com base em desenhos feitos no linóleo com giz branco. Além de ser a única relação com o universo da criança, os desenhos de trilhos de trem, corações e caixas de bombom, bem como a referência à figura paterna, permitem a construção paulatina das imagens, de acordo com as necessidades de seu desenrolar.

O ritmo, tempo e duração do espetáculo são a tal ponto experimentais que os atores ainda não conseguiram definir a que vieram. Uma das soluções seria (re)pensar o tempo como construtor de uma poética, de maneira a servir à cena como forma e conteúdo que veicula sentido próprio, sensorial e intuitivo. Em virtude de todo o experimentalismo pretendido pelo GAL, vemos que o espetáculo ainda se encontra nos trilhos de uma busca por soluções cênicas e narrativas para desvendar Willie e seu autor.

Mês Beckett no Cinema – “Dias Felizes”

A Fábrica de Sonhos – Espaço de Arte inicia sua programação cultural nesta terça-feira dia 10 de abril, com uma mostra cinematográfica sobre Samuel Beckett. O primeiro filme a ser exibido será “Dias Felizes”. As exibições fazem parte da “Confraria do Filme”, projeto que visa estabelecer um diálogo entre o público e o cinema, por meio da amostragem de filmes de grande valoração artística e que pouco são mostrados no circuito convencional, e promove ainda um bate-papo ao final das exibições, visando pontuar aspectos importantes e relevantes das obras apresentadas. Os debates serão conduzidos por Milton Verderi, curador do projeto.

Dias Felizes (Happy Days. Irlanda, 2000, 77 min)

Direção: Patricia Rozema. Com: Rosaleen Linehan (Winnie) e Richard Johnson (Willie)

O cenário é um deserto, onde encontram-se apenas Winnie, mulher de meia-idade, ainda com certa beleza; Willie, um homem taciturno, que mora num buraco ao lado e de quem só vemos o pescoço, e uma misteriosa mala. A mulher tagarela sobre tudo – vida, esperança, passado, armas de fogo, poemas etc – com o tal homem, que parece não se importar com sua parceira. O filme torna-se praticamente um monólogo, a não ser pelos grunhidos ou respostas monossilábicas do homem. À medida que o tempo passa, a mulher passa a ser “engolida” pela terra, preocupando-se com o parceiro, de quem não ouve sequer a respiração.

Dias Felizes é uma adaptação do desafiante drama absurdo de Samuel Beckett, uma peça que poderia ser considerada impossível de ser filmada. Aderindo fielmente ao original minimalista de Beckett, a peça é composta de apenas dois personagens patéticos, que são uma paródia negra de amor, casamento e de nossa busca por um significado em um universo incompreensível. Uma mulher, Winnie, passa o tempo todo semienterrada em um monte de sujeira; a sua situação nunca é explicada, na maneira em que Beckett a expõe. O outro personagem, o marido, Willie, quase nunca é visto. A veterana dos palcos e telas de Dublin, Rosaleen Linehan, conduz excepcionalmente uma mulher vazias e apegada às rotinas arbitrárias e rituais da vida, sempre esperançosa de que “este será um dia feliz”.

SERVIÇO

Mês Beckett no Cinema
“Dias Felizes” – Dia 10/04 – 21h15
Ingressos a R$ 10,00 e R$ 5,00
Fábrica de Sonhos – Espaço de Arte
Rua Pedro Demonte, 136 – Jardim Alto Alegre (próximo a Unesp)
Telefones: (17) 3223-5736/3014-4058

Teatro Wallace – Araraquara/SP

Posso dizer, com certeza, que a viagem de pouco mais de 36 horas que fiz a Araraquara foi extremamente produtiva.

Cheguei à cidade para assistir à palestra de Renata Pallotini e acabei vendo muito mais. Para vivenciar outros ares culturais não é necessário nada além de um pouco de boa vontade, olhar aguçado, espírito de busca e uma máquina fotográfica! =D

Talvez os moradores da cidade (assim como às vezes eu penso sobre São José do Rio Preto) digam “Não tem nada de interessante aqui nessa cidade!”. Realmente. Quando estamos sem os ingredientes que citei acima, fica bem mais difícil querermos parar para ver com atenção o que temos à nossa volta. Voltando a parafrasear Tolstoi: pinte, cante, escreva, crie em com e sobre sua aldeia. Como um artista poderá pensar sobre sua arte sem observar como as coisas estão à sua volta?

Quando cheguei ao espaço onde seria realizada a palestra, gostei do espaço logo de cara. O Teatro Wallace (como é comumente chamado) é pequeno, mas grande o suficente para se tornar uma sala de espetáculo onde cabem as memórias deste artista da cidade. No Flickr do Blog você confere um álbum com fotos do espaço.

Pelo que li, Wallace Leal Valentin Rodrigues foi ator e diretor de teatro. Fundou o Grupo de Teatro TECA – Teatro Experimental de Comédia de Araraquara, um grupo que se tornou muito famoso entre o final da década de 50 e início da década de 60. Com esse grupo, Wallace viajou por diversas cidades do Brasil, chegando até Porto Alegre e Rio de Janeiro, a convite do então Ministro Paschoal Carlos Magno, que visitara o TECA em sua cidade natal para assistir a uma apresentação. Escreveu o roteiro, produziu e dirigiu um filme, “Santo Antonio e a Vaca”, que retratava o folclore regional, qua alcançou notoriedade local até os dias atuais.

Interessante notar como somos um povo sem memória e que não incentiva a cultura: Wallace, que muito fez com os mínimos recursos, em certo momento, ao que parece, se desencantou com o tratamento dado ao seu trabalho artístico e dedicou-se ao espiritismo. Traduziu títulos do francês, espanhol, inglês e alemão e escreveu outros tantos livros.

A cidade esforça-se por lembrar-se da época de ouro de Wallace, o TECA e “Santo Antônio e a Vaca”, mas esquece o porquê de seus declínios.

PARA SABER MAIS:

Informações no site da Prefeitura de Araraquara (aqui e aqui)

Biografia de Wallace sob a visão da doutrina espírita (aqui)

 

SERVIÇO

Teatro Wallace Leal Valentin Rodrigues
Av. Espanha, 485 Centro
Araraquara/SP
(16) 3301-5179

Espaço de Bonecos – Araraquara/SP

Continuando a série de posts sobre minha visita a Araraquara, minha anfitriã levou-me ao espaço de seu amigo, inaugurado recentemente.

Trata-se do Espaço de Bonecos, que, naquele dia, faria a primeira sessão do espetáculo de animação “O Homem que plantava sementes”.

(Falarei um pouco dele em outro post).

O lugar tem um espaço muito agradável, com decoração caprichada e organização de primeira.

Ao entrarmos, um panorama das representações de bonecos pelo mundo, um texto sobre a história sobre estas figuras e um simpaticíssimo Pulcinella (quase em tamanho real) nos aguardando na porta.

Não resisti em tirar uma foto...

Ainda no hall de entrada, um curioso “Baú de ossos” desperta-nos para a construção interna de um títere*:

Em seguida, entramos por um espaço de uma exposição, cuidadosamente organizada e etiquetada. Como espero que este espaço tenha vida longa, gostaria de ver, em uma próxima vez, os bonecos acondicionados em redomas de vidro ou acrílico transparente, para que assim possam ser preservados.

A exposição possui bonecos de variados tipos, todos de acervo da companhia. Alguns integraram espetáculos da Cia. Polichinelo e agora embelezam o espaço. Fotografei T-O-D-O-S os bonecos da exposição e, como ainda não sei mexer muito bem em ferramentas de blog (aceito dicas e tutoriais nos comentários, por favor!)  criei um álbum no Flickr com todas essas imagens.

*Títere: Boneco de madeira, pano ou outro material, articulado ou não, animado pelas mãos de seu manipulador ou suspenso por fios que se fixam à cabeça, mãos, joelhos e pés, presos em uma trave que serve de sustentação a partir da qual é movimentado. Recebe diferentes nomes, de acordo com a região onde surge, ou de acordo com seu manipulador, ou ainda quanto ao material de que é feito: bonifrate, fantoche*, mamulengo*, marionete. O teatro de bonecos tem sido, desde épocas remotas, uma forma universal de entretenimento, tanto para o homem de pouco saber como para o de conhecimento requintado. No Oriente, os títeres são considerados uma das formas mais delicadas e requintadas de arte dramática.  FONTE: Teixeira, Ubiratan. Dicionário de teatro. São Luís: Editora Instituto Geia, 2005. p. 267 (DISPONÍVEL EM: http://www.geia.org.br/wp-content/uploads/2008/12/dicionario_teatro.pdf)

SERVIÇO

Espaço do boneco
Av. Feijó, 804 – Centro – Araraquara – SP – (16) 3214 9287